Tenho visto cada vez mais forte o enquadramento de que as
novas tecnologias atrapalham as experiências offline. Não concordo com ele.
Gastar tempo com tecnologias que nos transportam para
mundos virtuais não é algo novo. Há décadas temos televisões e videogames, que
ocupam boa parte do tempo de adultos e crianças.
A atividade de utilizar redes sociais no celular, por
exemplo, em boa parte do tempo não é individual. Quando duas pessoas estão
próximas uma da outra, é comum elas compartilharem de modo tradicional
(offline) um vídeo ou imagem, ou comentarem o que estão lendo. Exatamente como
fazemos quando vemos TV ou jogamos videogame com alguém.
Essas tecnologias servem para marcarmos eventos offline
com quem dificilmente veríamos pessoalmente de outra forma, e para manter os
laços fortes durante esse período de distância.
Eu, pessoalmente, não conheço nenhuma pessoa que, por
causa das novas tecnologias, deixe de gostar de viajar, por exemplo, e conheço
pouquíssimas pessoas que não gostam de sair com os amigos. Mas já conhecia
pessoas assim antes das novas tecnologias, então não acho que elas sejam a
causa.
Tenho sobrinhas adolescente e criança, e não acho que a
infância, nem a adolescência delas foram menos ricas que as minhas por causa de
novas tecnologias.
Tenho primas muitos novas, que já nasceram com tablets e
smartphones, e nem por isso vejo elas não gostarem de brincar no chão com
brinquedos tradicionais.
Sinto novas tecnologias me ajudando, e ajudando pessoas
mais experientes, como minha mãe, por exemplo.
As tecnologias nos trazem muito conhecimento, permitem
que a gente vivencie uma quantidade de experiências que seriam impossíveis numa
vida sem elas.
Acho que o pessimismo se baseia em estereótipos de
pessoas que são viciadas em jogos ou redes sociais, assim como sempre houve
pessoas viciadas em tudo, como livros, por exemplo (taí uma outra boa discussão
pra outro momento: porque ler livros é assim tão superior a ver séries, por
exemplo?).
É claro que existem casos (talvez em número realmente
preocupante) de pessoas viciadas em novas tecnologias, que precisam ser olhados
com atenção, especialmente as crianças. Mas não creio que a solução para as
crianças, por exemplo, seja retirar da vida dela as novas tecnologias, mas
saber dosar, como é preciso dosar tudo na educação de uma criança.
O que acho equivocado é, principalmente, valer-se de
esteriótipos e de casos problemáticos para generalizar um novo tipo de
interação.
Nas redes sociais, por exemplo, estamos trocando ideias e
construindo laços com indivíduos de uma nova maneira. Por que esse novo formato
seria tão inferior assim? Ele não pode ser conjugado com o tradicional trazendo
novas possibilidades e benefícios?
Historicamente, há sempre forte oposição e pessimismo em
relação a novas mídias. Quando surgiu a escrita, por exemplo, acreditava-se que
seria o fim da memória.
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