O potencial de devastação da minha pesquisa de mestrado na minha vida foi muito grande. Tão grande, que mudou minha própria identidade de gênero.
Eu fui designado como homem, e nunca havia questionado essa designação por dois motivos. Primeiro porque eu me sinto bem com meu corpo de macho. Gosto de ter pelos, barba, pênis, de não ter seios. Também não me identifico com a estética feminina. Não gosto de usar maquiagens, esmaltes, saltos altos e saias (já experimentei todos eles). Segundo porque, até então, eu achava que só existiam duas possibilidades: ser apenas homem ou ser apenas mulher. E eu não me via deixando de ser homem para me tornar apenas mulher.
Mas ao mesmo tempo, eu nunca me senti cabendo dentro da identidade de homem. Eu sempre me senti escorregando para fora, transbordando, ultrapassando as fronteiras.
Eu me identifico com uma aparência masculina, mas eu não me identifico com mais nada ligado ao masculino. Por outro lado, eu me identifico com tudo o mais ligado ao feminino. Não gosto de futebol, de lutas, de carro. Gosto é de celebridades, de novela, de relacionamentos. Ok, são estereótipos, mas é a partir deles que a gente é julgado e que a gente lê o mundo, não adianta fingir que eles não existem. Eu me comporto de maneira feminina e me identifico com quem se comporta do mesmo jeito. Não cuspo no chão, não coço o saco e não sento com as pernas abertas. Ponho a mão no colo, cruzo as pernas e falo delicado. Meus ídolos e meus modelos são todos femininos. Beyoncé, Vera França, minha mãe.
Eu me identifico com uma aparência masculina, mas eu não me identifico com mais nada ligado ao masculino. Por outro lado, eu me identifico com tudo o mais ligado ao feminino. Não gosto de futebol, de lutas, de carro. Gosto é de celebridades, de novela, de relacionamentos. Ok, são estereótipos, mas é a partir deles que a gente é julgado e que a gente lê o mundo, não adianta fingir que eles não existem. Eu me comporto de maneira feminina e me identifico com quem se comporta do mesmo jeito. Não cuspo no chão, não coço o saco e não sento com as pernas abertas. Ponho a mão no colo, cruzo as pernas e falo delicado. Meus ídolos e meus modelos são todos femininos. Beyoncé, Vera França, minha mãe.
Hoje percebo que sou parte homem, parte mulher. Um pouco de cada um. Nenhum dos dois por completo.
Eu tenho determinadas experiências ligadas ao feminino e determinadas experiências ligadas ao masculino. Não posso dizer que compartilho totalmente da mesma identidade que uma mulher, porque eu não compartilho de todas as suas experiências (cobrança por serviços domésticos, estigmatização de roupas curtas, medo de ser estuprada). Mas também não posso dizer que compartilho totalmente da mesma identidade de um homem, porque eu também não compartilho de todas as suas experiências (posição de status no ambiente escolar, ser servido pela namorada/esposa, atribuição de força).
Mas eu compartilho de algumas experiências masculinas (liberação dos serviços domésticos na casa dos pais, poder andar sem camisa, ter sua feminilidade recriminada). E também de algumas experiências femininas (inferiorização, atribuição de fraqueza, agressões).
Eu não caibo nessa dicotomia de gênero, e nem tenho que caber.
Tá certíssimo!!
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