1. Número de partidos: O Brasil é um partido
pluripartidarista. Atualmente, ele tem 32 partidos políticos.
Para um novo partido ser fundado, é necessário que ele colha
um número de assinaturas correspondente a 0,5% dos votos
válidos registradas na última eleição para deputado.
Atualmente, esse número corresponde a menos de 500 mil
assinaturas. Depois de criado, apenas alguns atos cometidos
pelo partido (como receber verbas de entidades estrangeiras)
podem causar sua extinção. Outros países são bipartidaristas,
ou seja, na prática, têm apenas dois partidos políticos (podem
até existir outros, mas as regras eleitorais dificultam
fortemente a participação dos partidos menores). O problema do
bipartidarismo é que os dois partidos políticos em disputa
representam apenas duas formas politicamente privilegiadas de
ver a sociedade (privilegiadas porque são representativas da
maioria). Isso causa dois problemas: a) As duas formas acabam
sendo, sob muitos aspectos, muitos semelhantes. b) Muitas
outras formas de se ver a sociedade ficam invisibilizadas. Mas um
pluripartidarismo tão frouxo como o brasileiro também acarreta
muitos problemas, principalmente os seguintes: a) Muitos
partidos acabam tendo um posicionamento muito parecido uns com
os outros. b) Alguns partidos acabam não sendo representativos
de uma parcela significativa da sociedade. c) O alto número de
partidos dificulta o debate e a capacidade dos eleitores
acompanharem todas as perspectivas. Assim, o ideal seria um
pluripartidarismo mais rígido. Uma boa ideia seria revalidar
periodicamente a existência dos partidos. Um partido que
conseguiu o número mínimo de assinaturas há décadas atrás, não
necessariamente conseguiria novamente hoje em dia. Também
seria necessário repensar essa quantidade mínima de
assinaturas. Hoje o número necessário é inferior a 0,25% da
população brasileira. Será que essa quantidade de pessoas é
significativa para justificar a criação de um partido, ou será
que precisaríamos aumentar essa quantidade um pouco?
2. Coligações: Os 32 partidos políticos do Brasil se organizam
nas eleições através de coligações. Num sistema com tantos
partidos, essa é a única maneira de organizar minimamente as
eleições para o executivo. Entretanto, essa lógica tem um
grande problema. As coligações podem ser realizadas de forma
diferente em cada cidade e em cada estado, em relação a forma
como são realizadas no nível federal. Isso gera um série de
relações oportunistas entre os partidos, e dificulta a clareza
e a compreensão do processo por parte dos eleitores, em
especial em relação às eleições para o legislativo, como
indicado mais detalhadamente no tópico seguinte.
3. Eleições para deputado: As eleições para deputado no Brasil
seguem a lógica do quociente eleitoral. Nas eleições para
deputado federal, por exemplo, funciona assim: O número de
votos válidos de cada estado é dividido pelo número de
cadeiras que esse estado possui. Esse é seu quociente
eleitoral. Posteriormente, o número de votos recebido por cada
coligação é dividido pelo quociente eleitoral, e assim se
define quantas cadeiras cada coligação vai ocupar. Esse
sistema tem vários problemas. Alguns candidatos menos votados
acabam sendo eleitos em detrimento de outros mais votados
porque sua coligação teve no total mais votos do que a
coligação do outro. Por isso, muitas coligações lançam uma
grande quantidade de candidatos, para que o número total de
votos para elas seja maior. Além disso, o eleitor acaba
elegendo não o candidato em quem ele votou, mas sim os
candidatos mais votados da mesma coligação. Com a lógica
fluida das coligações, acabamos elegendo candidatos de
partidos que não admiramos, se eles estiverem coligados com o
partido em quem votamos. Muitos defendem o voto em lista. Ao
invés de votar em um candidato, votaríamos num partido ou
coligação, que teria uma lista de candidatos ordenados por
prioridade para ocuparem as vagas alcançadas. Outra
possibilidade seria o voto distrital: cada estado seria divido em uma quantidade de localidades correspondentes à quantidade de cadeiras que ele ocupa, e cada localidade elegeria apenas um candidato.
4. Número de deputados: Atualmente a Câmara Federal é composta
de 513 deputados. O número de cadeiras por estado é
proporcional ao número de habitantes, mas deve ser de no
mínimo oito e de no máximo setenta deputados. São Paulo é o
único com setenta (seguido por Minas Gerais, com 53), enquanto
onze estados têm oito deputados. Se a deliberação é parte
essencial do sistema democrático que buscamos praticar, como
isso é possível com 513 deputados? Esse número não está alto
demais? E essa diferença tão grande entre o número de
deputados de cada estado não faz com que os estados menos
populosos tenham seus interesses invisibilizados? Tudo bem que
a população de São Paulo é vinte vezes maior que a do Sergipe,
mas isso significa que a população de São Paulo tem dez vezes
mais demandas a serem atendidas? Não seria o caso de rever
esse mínimo e esse máximo para garantir uma maior igualdade
entre os estados?
5. Senado: O Senado é composto por três representantes de cada
estado, eleitos por um mandado de oito anos. O primeiro
problema é evidente: porque mandatos de oito anos? É tempo
demais. O outro problema é que o Senado e a Câmara Federal são
órgãos parecidos demais, o que coloca em questão a necessidade
da existência dos dois ao mesmo tempo. As diferenças de atribuições entre um
e outro são muito poucas. Basicamente, o Senado é o único que
pode exercer funções como processar e julgar o presidente e
aprovar a escolha dos ministros do Tribunal de Contas da
União. Já a Câmara é quem pode executar ações como votar
medidas provisórias, autorizar o presidente a declarar guerra
e convocar plebiscitos. Enfim, uma divisão completamente
arbitrária de funções.
6. Suplentes: Se é difícil para o eleitor pesquisar o
histórico de cada candidato, ainda mais o de seus suplentes.
Mas frequentemente quem elegemos desiste do cargo no meio do
mandato e é substituído por seu suplente, que nem se quer
conhecemos. Se a lógica fosse outra, esse problema seria
menor. A substituição poderia ocorrer, por exemplo, pelo próximo
candidato mais votado na mesma eleição.
7. Judiciário: No Brasil, não há eleições diretas para o poder
judiciário. A indicação dos líderes do judiciário é feita pelo
executivo e aprovada pelo legislativo. Isso não compromete a
independência desse poder?
8. Horário eleitoral: O tempo do horário eleitoral gratuito no
rádio e na televisão é dividido de acordo com a
representatividade dos partidos ou coligações na Câmara
Federal. Isso faz com que os partidos que elegeram mais
candidatos na última eleição tenham um tempo muito superior
aos demais. Por sua vez, isso ajuda esses partidos a
continuarem nessa mesma situação privilegiada. Precisamos
pensar na possibilidade de uma divisão igualitária do horário
político entre os candidatos.
9. Financiamento de campanha: Hoje grandes empresas financiam
a campanha dos principais candidatos, doando milhões para
essas candidaturas. Muitas vezes, a mesma empresa doa
expressivas quantias para todas as principais candidaturas
concorrentes. Essa lógica traz dois principais problemas.
Primeiro, é óbvio que nenhuma empresa se envolve no sistema
eleitoral de um país capitalista se isso não lhe for render
algum retorno financeiro. Portanto, é fácil perceber que se as
mesmas empresas continuam investindo nas candidaturas eleição
após eleição, isso indica que o que eles ganham com esse
investimento supera o próprio investimento. Assim, podemos
supor que ocorre, mesmo que de uma maneira indireta, algum
tipo de favorecimento dessas empresas no mandato de seus
candidatos. Mesmo que isso não possa ser comprovado, essa
simples suspeita já é muito grave num sistema democrático. O
segundo problema é que as candidaturas que agradam o grande
capital recebem muito mais doações do que as que o desagradam,
de forma que têm muito mais verba para campanha, o que gera
uma relação de desigualdade que desprivilegia fortemente
algumas candidaturas. A solução para esses problemas seria o
financiamento público de campanha. O que o Estado gastaria nas
eleições seria um ônus necessário para garantir que nenhuma
ação fosse feita posteriormente a fim de beneficiar as
empresas que fizessem doações em detrimento do restante da
população. Como essas doações são milionárias, pressupõem-se
que os ganhos de tais empresas sejam mais milionários ainda.
Assim, no final das contas, pressupõem-se que haveria uma
economia indireta do dinheiro público. Com todas as
candidaturas recebendo o mesmo valor, a disputa seria mais
equilibrada. E esse valor não seria nem de perto o que os
candidatos mais votados têm hoje disponível, mas algo muito
mais razoável.
10. Obrigatoriedade do voto: Em muitos países, o voto não é
obrigatório. Isso faz com que vote apenas quem se interessa
pela disputa eleitoral. Entretanto, em países como os Estados
Unidos, o índice de votantes em relação ao total da população
é muito baixo. Isso gera uma sensação de pouca
representatividade dos votos, e também pode contribuir para
que parcelas menos intelectualizadas da população fiquem à
mercê da escolha das parcelas mais intelectualizadas.
Entretanto, é muito reivindicado o direito de não querer
opinar, apesar de haver as possibilidades de se votar em
branco ou nulo. Argumenta-se também que muitos votam sem uma pesquisa e consciência necessárias, porque são obrigados a votar, e que seria mais produtivo se apenas quem se engajasse realmente nas discussões reivindicasse o direito ao voto.
Bônus - Pesquisas eleitorais: Há quem defenda que as pesquisas eleitoras não devem ser realizadas ou divulgadas, porque influenciam no voto dos eleitores. Isso ocorre porque muitos eleitores acabam optando por votar em um dos candidatos com maiores chances de serem eleitos em detrimento de outros candidatos com menores chances com os quais eles se identificam mais. Deixei essa questão de fora porque ela me parece especialmente problemática, e, portanto, não estou certo se essa deve ser uma das pautas em discussão ou não. Acontece que, como jornalista, não posso deixar de me sentir incomodado com a possibilidade da proibição da produção e da divulgação de um conhecimento relevante sobre o mundo em que vivemos. Me parece ser um direito das pessoas escolher usar seu voto da maneira como quiser, inclusive levando em consideração estratégias como votar em um dos candidatos com maior chance de ser eleito.
Bônus - Pesquisas eleitorais: Há quem defenda que as pesquisas eleitoras não devem ser realizadas ou divulgadas, porque influenciam no voto dos eleitores. Isso ocorre porque muitos eleitores acabam optando por votar em um dos candidatos com maiores chances de serem eleitos em detrimento de outros candidatos com menores chances com os quais eles se identificam mais. Deixei essa questão de fora porque ela me parece especialmente problemática, e, portanto, não estou certo se essa deve ser uma das pautas em discussão ou não. Acontece que, como jornalista, não posso deixar de me sentir incomodado com a possibilidade da proibição da produção e da divulgação de um conhecimento relevante sobre o mundo em que vivemos. Me parece ser um direito das pessoas escolher usar seu voto da maneira como quiser, inclusive levando em consideração estratégias como votar em um dos candidatos com maior chance de ser eleito.
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