segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A discriminação como caminho para a felicidade

Toda vez que vejo um ser humano rindo de outro, paro para pensar o que motiva aquele ato. Eu, como ser humano, não sou diferente: também rio da cara dos que considero de algum modo piores do que eu. Mas a cada dia tenho visto nos outros menos motivos para rir. E isso não se deve ao fato de eu ter me tornado uma pessoa melhor, mas sim mais infeliz.

Estar acima do peso ideal é ser GORDO. Não se enquadrar nos padrões de beleza é ser FEIO. Não possuir alguma parte do corpo ou ter alguma parte do corpo com possibilidades funcionais reduzidas é ser ALEIJADO. Não ter tido acesso ao ensino formal ou não dominar a variante padrão da língua oficial é ser IGNORANTE. Não ser mais inteligente que a média é ser BURRO. Ser afeminado (no caso dos homens) é ser VIADO. Ser masculinizada (no caso das mulheres) é ser SAPATÃO.

Porque o fato de alguém ser gordo, feio, aleijado, ignorante, burro, viado ou sapatão me faria rir? Porque perceber nos outros essas características faz com que eu me sinta uma boa pessoa. Uma pessoa magra, bonita, saudável, culta, inteligente, feminina (no caso das mulheres) ou máscula (no caso dos homens). Somente percebendo que os outros não possuem características valorizadas, que eu acredito possuir, é que possuí-las torna-se algo bom. Somente rindo dos que não possuem tais características posso perpetuar a valorização dessas características e assim continuar sendo, de algum modo, uma pessoa superior. Desse modo, eu posso manter minha própria felicidade.

Não encontrar mais em si tais características valorizadas me faz infeliz e me faz deixar de achar graça na ausência delas também nos outros. Se o fato de não se encontrar no outro uma característica valorizada que se tem faz rir, encontrar no outro uma que não se tem dói e faz chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário